Personal & Outfits | 31 Anos ou uma reflexão sobre o pior ano da minha vida e como o vou superar

camisola verde menta de mistura de lã e alpaca: H&M | saia bege de cetim: Mango Outlet

botas bege de pele e cano alto: ZARA | casaco bege lã e caxemira: El Corte Inglés | brincos da Carolina

Hoje faço 31 anos.

Se o meu aniversário nunca me disse muito, por si só 

(digamos que prefiro celebrá-lo a fazer uma viagem outonal numa cidade europeia

do que propriamente a fazer uma grande festa),

este que marca o meu pior ano de sempre diz-me ainda menos.

No entanto, gosto de utilizar o meu dia de anos para fazer um balanço do último ano,

para celebrar as vitórias, cimentar as lições aprendidas e reflectir sobre os infortúnios...

Bem...que ano!

O meu 30º ano de vida esteve longe de ser fácil!

Foi passado numa terra bem longe da minha,

e isso marcou-me de uma forma que só agora começo a entender...

A adaptação ao meu primeiro ano como Médica de Família, a exercer a minha especialidade de sonho,

trouxe desafios, e o trabalho, esse, (mesmo antes da pandemia) era pesado...

mas encontrei pessoas que guardo no coração. Isso é inegável.

Em Fevereiro, fui com o Diogo a Andorra, para as minhas primeiras férias numa estância de esqui,

e estava longe de saber que seriam o último momento fôlego antes de um grande mergulho.

Não me vou alongar a falar da pandemia,

porque afectou - e afecta - tudo e todos - mas direi isto:

ser profissional de saúde nestes tempos tem sido uma verdadeira prova de fogo em versão maratona;

além da carga laboral bastante aumentada (agravada pela inacreditável - e inaceitável! - falta de recursos humanos),

tivemos de aprender a fazer medicina num formato longe de ideal - à distância -

e ainda temos sofrido muita, mas muita, incompreensão e desrespeito por parte de dirigentes e utentes.

Tem sido decepcionante.

Trabalhar no SNS por amor à camisola e ser surpreendido com um nível descomunal de empatia

desmotiva muita gente.

A mim desmotivou-me...

Dei por mim com o meu filho na barriga, cansada, frágil, nervosa, a passar os dias a chorar,

a querer dar mais e mais aos meus utentes, para colmatar falhas que não dependiam de mim,

e quebrei...

Não consegui mais!

Tive de colocar a profissão que tanto amo em "stand-by" e dedicar-me a ser mãe.

A ser grávida. A sentir-me grávida.

Infelizmente, por ironia do destino, 2020 tinha reservado para mim a maior dor da minha vida:

perdi o meu tão desejado primeiro filho para a natureza no dia 19 de Novembro...

Ficou um vazio que não se consegue colocar em palavras,

um vazio que tento preencher escrevendo cartas ao meu bebé,

partilhando a minha história com outras pessoas no meu Instagram @_nadiasepulveda

e ouvindo desabafos de quem também passou por perdas gestacionais.

Achava que o meu 31º aniversário seria passado grávida,

concretizando o meu maior sonho, mas eis-me aqui, uma mãe sem filho nos braços,

a tentar reunir os pedaços do que sobrou do meu coração partido...

A tentar aprender a sorrir de novo (a sério), a procurar recuperar a luz, a força, a garra que sempre tive...

Sinto-me num bom caminho...ando com a dor debaixo de um braço e a esperança do outro.

Sabem, podemos estar partidos e ser fortes ao mesmo tempo. Sou exemplo disso.

A minha mãe sempre me disse que sou capaz de tudo...

acho que só agora entendi plenamente o que ela queria dizer.

Obrigada a quem está desse lado, a quem me enche de carinho mesmo sem me conhecer,

a quem me conforta mesmo sem saber...

Continuo aqui. Continuarei.

PHOTOGRAPHED BY DIOGO