O tema da higiene íntima é revestido de muitos tabus e marketing.
A verdade é que para nos mantermos saudáveis é preciso muito menos do que nos querem fazer crer!
Hoje irei partilhar RECOMENDAÇÕES GERAIS sobre HIGIENE ÍNTIMA FEMININA
e abordar de forma breve as infeções vulvovaginais mais frequentes.
Vamos então começar!
A preocupação (excessiva) das mulheres com a higiene íntima remonta à infância. Desde cedo, é incutida na mulher a ideia de que tem de se "manter limpa", e, por isso, muitas de nós chegam à idade adulta sem saber que o CORRIMENTO VAGINAL é perfeitamente normal (e necessário!) e que a região vulvovaginal tem um odor próprio, que não temos de "disfarçar".
A nossa vagina faz um processo de "auto-limpeza", eliminando secreções. Este corrimento vaginal pode ser em maior ou menor quantidade, variando de mulher para mulher, mas geralmente este corrimento é esbranquiçado e relativamente espesso durante a maior parte do ciclo menstrual, e torna-se mais aquoso, transparente, abundante e flexível durante o período fértil.
REGIÃO ÍNTIMA FEMININA
A vulva e a vagina são distintas.
A vulva é a região externa, constituída pelos lábios, grandes e pequenas, o clitóris, a abertura da vagina, da uretra, e as glândulas de Bartholin,
enquanto que a vagina é o canal que vai desde o orifício até ao colo do útero.
O pH da região é naturalmente ácido e a flora vaginal possui inúmeras bactérias benéficas, nomeadamente Lactobacilos.
Alterações no pH e na flora podem causar proliferação de agentes patogénicos,
causando vaginites, além de favorecer o aparecimento de outras doenças.
Estas alterações podem ser decorrentes de menopausa, gravidez,
excesso de higiene da região íntima, uso de pensos diários,
uso de alguns antibióticos e outros fármacos, diabetes, alterações do sistema imunitário, etc...
INFEÇÕES VULVOVAGINAIS
Alterações na cor de/ou odor do corrimento vaginal, assim como comichão e irritação, poderão ser sintomas de vaginite e deverão motivar uma ida ao médico, para diagnóstico adequado.
Dependendo do microrganismo envolvido, estas infeções podem ser de 3 tipos.
Vamos conhecê-las de forma sucinta:
- VAGINOSE BACTERIANA:
Proliferação de bactérias anaeróbias.
Causa corrimento branco acinzentado, com odor a peixe.
- CANDIDÍASE:
Proliferação fúngica, geralmente fungos do tipo Candida albicans.
Há corrimento branco, grumoso, sem cheiro,
muitas vezes associados a comichão intensa e vermelhidão da vulva.
(Irei explicar mais alguns detalhes sobre esta doença mais abaixo nesta publicação.)
- TRICOMONÍASE:
Proliferação de microrganismos protozoários.
Causa corrimento amarelado-esverdeado, arejado, irritação e vermelhidão da vulva.
Muitas vezes associado a sintomas de irritação urinária.
COMO DEVE SER A HIGIENE ÍNTIMA?
1. Evitar limpeza excessiva: o interior da vagina não deve ser lavado
(não fazer duches vaginais!),
pois tal aumenta o risco de infeções genitais.
2. A região externa (vulva) deve ser lavada gentilmente com água corrente,
em geral 1x/dia, sem recorrer a esponjas ou utensílios abrasivos,
durante não mais que 2-3 minutos.
3. Não existe um claro consenso de que produtos "específicos" sejam melhores.
Poderão ser aconselhados pelo vosso médico em situações específicas,
mas, de base, "menos é mais".
4. A água deverá ser suficiente ou, quando muito, um sabonete suave, hipoalergénico,
com pH neutro-ácido, e preferencialmente líquido.
Grande parte dos sabonetes líquidos disponíveis no supermercado serão adequados.
OUTROS CUIDADOS A TER:
1. NÃO utilizar sprays, perfumes, talcos ou toalhitas 2. na casa de banho, limpar a região de frente para trás 3. trocar os pensos e tampões a cada 4-6h 4. NÃO usar pensos diários para "recolher" o corrimento 5. preferir roupa interior de algodão 6. evitar roupa justa e sobretudo molhada (após idas à piscina, mar, etc) 7. lavar a área genital com água após as relações sexuais
CANDIDÍASE VULVOVAGINAL:
Vamos especificar mais alguns detalhes sobre esta infeção vaginal fúngica tão comum!
Antes de mais nada,
convém salientar que a candidíase não é uma infeção sexualmente transmissível.
Estes fungos já estão presentes no nosso organismo,
mas nas situações de desequilíbrio na flora vaginal crescem de forma excessiva,
provocando uma candidíase.
As candidíases, que, como referia acima, cursam com corrimento grumoso, branco e espesso,
com comichão, vermelhidão e, por vezes, fissuras a nível vulvar,
são bastante incómodas e deverão ser tratadas atempadamente.
O tratamento deverá ser com medicamentos anti-fúngicos,
que poderão ser em comprimidos, óvulos/comprimidos vaginais e pomadas/cremes de uso tópico.
Todas as formulações são igualmente eficazes e são adaptadas à situação clínica específica.
O companheiro sexual só se trata se tiver sintomas.
Não é obrigatório evitar relações sexuais, a não ser que haja muita dor/desconforto.
As candidíases podem ser episódicas, ou recorrentes.
Considera-se candidíase recorrente quando existem 4 ou mais infeções por ano.
Estas situações estão habitualmente associadas a algum fator de risco:
uso frequente de antibióticos, corticóides, diabetes, entre outros.
Para evitar candidíases é importante seguir os cuidados referidos acima,
e, adicionalmente, ponderar com o vosso médico o uso de probióticos, com Lactobacilos,
para repor/proteger a flora vaginal.
Isto pode ser recomendado sobre ao utilizar antibióticos, nas pessoas que tenham essa tendência.
Mais estudos são necessários
para perceber o papel exato dos probióticos no tratamento/prevenção de infeções vulvovaginais.
Hoje vou focar-me num dos efeitos laterais possíveis - embora raros - das pílulas: a TROMBOSE.
A trombose consiste na formação de um coágulo que pode bloquear um vaso sanguíneo.
Pode ir desde uma trombose venosa superficial, relativamente benigna,
até situações clínicas mais complexas e graves.
Se a trombose ocorrer numa das veias profundas das pernas,
designando-se trombose venosa profunda,
e esta não for devidamente identificada e tratada,
há risco do coágulo sanguíneo formado se libertar e se alojar numa das artérias dos pulmões,
causando um tromboembolismo pulmonar.
Em 1-2% dos casos, este tipo de evento tromboembólico venoso é fatal.
Existem também eventos de trombose arterial,
como enfartes do miocárdio e AVCs (Acidentes Vasculares Cerebrais).
O risco destes eventos aumenta progressivamente com a idade, quer para homens, quer para mulheres,
e mediante a presença de factores de risco como fumar, ter tensão arterial elevada, ter determinada mutação genética, etc
A trombose é rara em mulheres jovens, saudáveis e sem factores de risco.
Numa mulher que não tome pílulas combinadas, nem esteja grávida,
estima-se que cerca de 2 mulheres em 10.000 desenvolvam um coágulo sanguíneo num ano.
No entanto, durante a gravidez,
o risco de um evento trombótico aumenta 5-10 vezes face ao risco de uma mulher não grávida,
e no pós-parto (puerpério) chega a ser 20 vezes superior.
Embora em menor proporção, o risco também está aumentado
em mulheres que utilizem métodos contraceptivos hormonais.
Saber que pode existir uma associação entre o vosso método contraceptivo
e um evento potencialmente grave pode deixar-vos, compreensivelmente, preocupadas,
por isso vou procurar ESCLARECER alguns pontos de forma a que estejam mais cientes dos riscos:
1.
Os contraceptivos hormonais orais podem ser combinados (estrogénio + progestativo) ou apenas progestativos.
2.
As pílulas são um dos métodos anticoncepcionais mais eficazes
e são usados por milhões de mulheres pelo mundo fora,
raramente com efeitos laterais graves
Não é à toa que este método é o preferido pela maioria das mulheres!
É geralmente bem tolerado, é prático, tem uma excelente eficácia (ronda os 98-99% se utilizados de forma adequada, sem esquecimentos)...
e permitiu a muitas mulheres ter escolha na sua vida reprodutiva!
3.
Há vários tipos de princípios activos utilizados nas pílulas
O etinilestradiol em baixa ou muito baixa dosagem (0,015 - 0,030 mg) é o estrogénio da maioria das pílulas.
As pílulas com 0,03 mg de etinilestradiol são geralmente preferidas nas mulheres mais jovens,
por permitirem um melhor controlo do ciclo menstrual
e terem menos tendência à ocorrência de "spotting" (hemorragias a meio do ciclo).
Relativamente aos progestativos, existem 4 gerações deste composto,
sendo que as mais recentes têm menos efeitos androgénicos (masculinizantes).
O levonorgestrel, de 2ª geração, é ainda bastante utilizado, e é uma excelente primeira escolha.
Se surgirem problemas de adaptação ou a doente necessitar de uma pílula menos androgénica
(nos casos em que haja acne, excesso de pêlos, etc),
surgem as opções de 3ª geração (desogestrel e gestodeno) ou de 4ª geração (drospirenona e dienogest).
A Zoely®, uma pílula relativamente recente,
apresenta compostos mais semelhantes às hormonas produzidas pelo nosso organismo
(17 beta-estradiol e nomegestrol).
No entanto, não há estudos, até à data, que provem a sua superioridade em termos de efeitos laterais.
Tabelas do Consenso de Contracepção da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (2011)
4.
Qualquer método hormonal oral, em qualquer dosagem,
está associado a aumento do risco de trombose
Sabe-se, no entanto, que o risco de um evento trombótico é maior no 1º ano de toma,
ou quando se reinicia uma pílula depois de uma paragem de mais de 1 mês.
As pílulas progestativas - que em Portugal são todas com desogestrel - estão associadas a um risco mais baixo que as combinadas.
É por esse motivo que são os métodos orais preferenciais se a mulher tiver factores de risco pessoais ou familiares para trombose,
como fumar e ter mais de 35 anos, por exemplo.
Quanto às pílulas combinadas, sabe-se que dosagens mais baixas de estrogénio (0,015-0,03 mg)
e pílulas com os progestativos levonorgestrel, norgestimato ou noretisterona são as que, actualmente, em termos relativos, apresentam menor risco de trombose.
Estima-se que, por cada 10.000 mulheres a tomar pílulas com levonorgestrel, 5 a 7 desenvolverão um coágulo sanguíneo num ano.
NOTA: Em Portugal não são comercializadas "pílulas" contraceptivas com norgestimato e noretisterona.
Os progestativos drospirenona, gestodeno e desogestreltêm um risco relativo superior ao levonorgestrel.
Estima-se que, por cada 10.000 mulheres a tomar
pílulas com drospirenona, gestodeno ou desogestrel, 9 a 12 desenvolverão um coágulo sanguíneo num ano.
Relativamente ao progestativo dienogest,
os estudos mais recentes parecem sugerir que este tem igualmente um risco superior ao levonorgestrel.
Estima-se que, por cada 10.000 mulheres a fazer uma pílula com dienogest
8 a 10 desenvolverão um coágulo sanguínea num ano.
No entanto, tal não parece suceder quando este progestativo está associado ao valerato de estradiol,
na pílula relativamente recente Qlaira®.
A ciproterona, o progestativo usado na Diane 35,
está associada a um risco de trombose até 4 vezes superior ao levonorgestrel,
motivo pelo qual esta pílula é preferencialmente utilizada por curtos períodos de tempo
e para situações clínicas específicas.
Quanto aos progestativos cloromadinona e nomegestrol são necessários mais estudos para chegar a conclusões precisas.
A diferença absoluta entre diferentes progestativos, no entanto, é pequena,
por isso uma mulher bem adaptada a uma pílula mais recente não tem necessariamente de mudar,
pois os estudos ainda não demonstraram um claro benefício nessa troca. Deverão, no entanto, estar informadas dos riscos e saber identificar potenciais sintomas de doença venosa profunda (vide ponto 8).
5.
As pílulas podem ser prescritas para tratar acne,
dores e irregularidades menstruais,
hirsutismo (aumento de pêlo), síndrome do ovário poliquístico, etc
Nestes casos, a dosagem de estrogénio utilizada é ligeiramente maior e os progestativos usados são diferentes do levonorgestrel. Por isso, é recomendado o uso por tempo limitado, sob supervisão médica e direccionado ao tratamento. Não deixem de conversar com o vosso médico para conhecer todos os potenciais riscos!
6.
A escolha da pílula deve ser individualizada e ter em conta os factores de risco de cada mulher
Hábitos tabágicos, obesidade, história de tromboses na família, entre outros factores têm impacto na indicação do método contraceptivo.
Devem conversar sobre isso com o vosso médico e a escolha deve ser feita em conjunto com ele!
7.
A escolha de utilizar um método contraceptivo hormonal é VOSSA!
Se considerarem que os riscos são demasiado grandes, podem escolher não tomar a pílula.
Mas façam-no de uma forma informada, conhecendo a fundo os riscos e benefícios,
e tenham em atenção que devem procurar métodos alternativos eficazes para evitar uma possível gravidez!
8.
Se estão a tomar a pílula e sentirem algum destes sintomas,
contactem imediatamente um médico ou recorram ao serviço de urgência:
Sintomas potenciais de trombose venosa profunda:
- inchaço unilateral da perna e/ou pé ou ao longo de uma veia na perna;
- dor ou sensibilidade na perna que pode ser sentida apenas quando está de pé ou a andar;
- calor aumentado na perna afectada;
- pele vermelha ou descolorada na perna.
Sintomas potenciais de tromboembolismo pulmonar:
- início súbito de falta de ar ou respiração acelerada inexplicáveis;
- tosse repentina que pode ser associada a hemoptise (expectoração com muito sangue);
- dor aguda no peito;
- tonturas ou confusão mental graves;
- batimento cardíaco rápido ou irregular.
Esta publicação foi feita face ao que se sabe, em termos de estudos internacionais, na presente data.
Como podem compreender, a medicina está sempre em mudança e evolução, por isso nada é estanque!
Tudo o que referi tem validade científica e serve para ajudar a esclarecer algumas dúvidas sobre as "pílulas".
Se tiverem alguma dúvida adicional, enviem-me por e-mail:
myfashioninsiderblog@gmail.com ou através do meu Instagram @_nadiasepulveda.
O que não souber, terei todo o gosto em pesquisar para poder responder.
ANEXO:
Listagem de pílulas comercializadas em Portugal por composição e marca comercial: